Ele estava indignado.
“Tá demais. Os bandidos chegam nesse ponto de ônibus e fazem arrastão direto. Roubam a banca de revistas, as bolsas dos turistas e nada acontece. Esses dias eles acharam pouco e explodiram o caixa eletrônico aí na esquina.
Turista tem dinheiro, o dono da loja também, mas assaltar meu carrinho de confeito é safadeza!”
Olhares e ouvidos mais atentos - no ponto de ônibus, próximo ao posto de combustível Jangadeiros, na manhã de ontem (05) - testemunharam a revolta de Ednaldo, que desabafava sozinho enquanto prendia lixeiros a correntes para evitar que fossem furtados.
Mas o desabafo solitário foi por pouco tempo.
“Meu nome é Ednaldo, mas só gosto que me chame pelo sobrenome: Negão do Caldo”.
Natural de São Miguel dos Milagres, 49 anos, oito filhos e algumas galinhas.
Apresentações feitas ele dispara:
“Aqui cuido da limpeza da praça, vendo DVD, sou jardineiro, segurança, carregador de colchões, etc, etc. Mas às vezes eu me estresso.”
Em poucos minutos Negão do Caldo analisou a violência na região onde trabalha há 25 anos. Segundo ele, a Pajuçara nos últimos cinco anos foi tomada por noieiros – usuários de crack - e desde então nem seu carrinho de confeito tem escapado.
“Eu amarro tudo, boto lona no carrinho, encho de madeira, mas não tem jeito... na hora do cochilo levam o que bem querem. Isso acontece muito nos dias de sinistro (ruas esvaziadas). Eles fazem arrastão aqui nos fins de semana e até as coisas do ‘peão de trecho’ aqui (ele mesmo) eles levam. Não perdoam. E nem eu.”
Negão do Caldo explicou que para sua segurança usa um cabo de força (todo em ferro) e que quando tem que agir, age. Mostrou o local onde os bandidos costumam ficar, de onde vêm, como atuam. Tudo nos mínimos detalhes.
Ele realmente é um conhecedor da área.
“Eu sei de tudo aqui, vejo tudo. Não escapa nada”.
Pegando a deixa eu pergunto: “E o assalto recente naquele posto de combustível ali explodiram o caixa eletrônico e levaram todo o dinheiro...
“É isso mesmo!” disse empolgado. Parecia ter muito a dizer.
E continuou: “Antes deixa eu explicar: esse negócio (explosão do caixa) não foram os noieiros não, porque esses roubam meu carrinho de confeito, a sua bolsa.
Isso foi coisa de bandido estudado. Deixa te explicar como acontece...”
E num arroubou de discrição ele arremata:
“Quer saber minha filha é como eu sempre digo: aqui eu sou cego, surdo e mudo”.
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