terça-feira, 4 de outubro de 2011

Ganhar na mega-sena e continuar no buraco

'Ganhar pouco, mas se divertir' é o que consola grande parte dos assalariados desse país e no caso do Sandro, não é diferente.
Foi aguardando um enterro que conheci esta figura...


O falecido demorou um pouco pra chegar então aproveitei para bater um papo com ele, o coveiro. A satisfação enquanto tirava terra daquele buraco era de impressionar. Sorriso no rosto e muita disposição.
Puxei uma conversa...
Boa tarde! É aqui que vai ser enterrado o fulano de tal?
Sim, senhora.
Tá demorando um pouco não é? Daqui a pouco escurece e o enterro... nada
Se preocupe não moça. Os compromissos que ele tinha já não tem mais. E  depois ele não tem mesmo motivo pra ter pressa, né?
É verdade...
Mas e o senhor, não tem pressa?
Tenho não. Sabe qual é a minha preocupação agora ? É que joguei na mega-sena e estou com medo de ganhar.
Medo?
Sim. Medo porque adoro esse cemitério e se ganhar vou ser obrigado a deixar os meus defuntos!!!!
Ah! Se preocupa não... com o  dinheiro vc vai poder comprar esse e outros e ainda passar o resto da vida dentro de um ‘cemitério para chamar de seu’.
Eita... foi Deus que te colocou no meu caminho. Agora, com essa luz que vc me deu, estou mais tranquilo. Não ia dormir hoje, acredita?
Acreditei!!!!



E foi nesse tom de brincadeira que o coveiro Sandro explicou seu gosto pelo ofício. Ele trabalha no cemitério São José, em Maceió, há 17 anos e nesse período disse já ter visto e ouvido de tudo.
Só naquele dia ele já tinha enterrado 15 e o próximo seria aquele que eu aguardava com certa expectativa porque o falecido tinha duas mulheres e elas estariam lá. E eu não quis perder, mas essa é uma outra história.
Confusões fúnebres
Ah! Confusão em enterro é o que mais tem. Dia desses eu estava já dentro do buraco. Aquele chororô. E eu lá trabalhando. De repente chegou um rapaz que era um dos filhos do morto, veio pra cima de mim tomou a pá da minha mão e largou na cara do outro irmão. Foi um alvoroço da peste. Fiquei com medo de sobrar até uma pazada pra mim. Não ficou um pé de gente.  Depois eu ouvi dizer que já era briga por herança e que o irmão tinha pego o dinheiro pra enterrar o pai no parque das Flores e o irmão descobriu que ele estava sendo enterrado aqui no São José. Acho que o coitado que trouxe o defunto pra cá tava querendo economizar. Foi assim que eu entendi.  
Excesso de viúvas
Já fiz um enterro que duas viúvas se agarraram no caixão dizendo que queriam ir junto. Aquele era amado mesmo. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Outra vez teve um caso que as mulheres foram até organizadas. Uma família passou um tempo aqui na beirada (do buraco) e depois saiu e veio a outra para ver o caixão descer.
E pensei: óia que mundo que tá moderno!!!
Contei esse caso para a minha esposa, pra ver o que ela achava da ideia.
Sou casado, muito bem casado, três filhos da minha mulher e alguns aí pelo mundo (mas ela nem sonha).
Pensando bem... acho que meu enterro vai ser um ‘furdunço’ porque tem mulher que já espera chifre do marido, mas a minha... nunca dormi um dia fora de casa nesses anos todos.
É capaz de dizerem e ela não acreditar. Eu confio em Deus que vai ser assim.
Fomos interrompidos. O ‘meu ‘defunto finalmente chegou.






P.S: Pelo acordo ortográfico mega-sena passa a ser escrito: Megassena
Fotos: Sandro Lima

Um comentário:

  1. Fico encantado com cada história que leio aqui. E como vcs conseguem escrevê-las tão bem.

    É tudo muito divertido. E vcs meninas poderiam começar a fazer vídeos também como complemento dos posts. Seria ótimo!

    Abraços!

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